(PUBLICADA EM “O GLOBO” em 03/02/2011)
RIO – O Icann, órgão que regulamenta a distribuição de endereços de IP (Internet protocol), informou nesta quinta-feira que esgotaram-se os últimos endereços do IPv4, versão atual do protocolo. Os últimos cinco blocos de endereços, totalizando 83,9 milhões, foram alocados em cada um dos cinco Registros Regionais da Internet (RIR). O fim dos números do IPv4, já esperado há
algum tempo, reforça a urgência da migração para o IPv6, versão mais recente do protocolo que possibilita um número 4 bilhões de vezes maior de endereços. Caso contrário, não será mais
possível conectar novos devices à rede.
– Esse é um dos dias mais importantes da história da internet. Um conjunto de mais de 4 bilhões de endereços de internet chegou ao fim esta manhã – disse Rod Beckstrom, chefe do Icann, em coletiva de imprensa na Flórida, nos Estados Unidos.
Por enquanto, o internauta não terá nenhum problema para acessar a internet.
– Tudo depende da tecnologia utilizada pela operadora de Internet e pelo usuário. Algumas empresas podem atualizar o software do modem do usuário remotamente. Mas o equipamento pode ser trocado se for muito antigo e não suportar o protocolo, impedindo o acesso à Internet – afirmou à Reuters o coordenador do projeto IPv6.br do Nic.br, Antonio Moreiras.
No Brasil o Comitê Gestor da Internet (CGI) prevê que os estoques durem até 2012. O IPv4 deve conviver com o IPv6 de 15 a 20 anos, até que um padrão substitua o outro, afirmou o NIC.br.
Nos EUA, o prazo é mais curto: de três a nove meses, de acordo com John Curran, CEO da American Registry for Internet Numbers (Arin), uma das cinco RIR. Segundo o PC World, a urgência da situação implicará novas regras para os fabricantes de aparelhos com acesso á internet: em vez de continuar informando à Arin a necessidade de endereços para os próximos 12 meses, agora terão que fazer isso a cada três.
A maioria dos sistemas operacionais já dá suporte ao novo protocolo. O Windows, por exemplo, já atende ao padrão desde sua versão de 1998.
O IPv4, desenvolvido na época em que a internet era restrita a instalações militares, dispõe de endereços em 32 bit e suporta cerca de 4 bilhões de endereços IP, ou 2 elevado à 32ª potência.
Com a proliferação de aparelhos com conexão à internet, esse número já é insuficiente (restam apenas 5% do total) e há grande pressão para uma migração para o IPv6, criado nos anos 90 e que usa 128 bit e disponibiliza 4 bilhões de vezes mais endereços que a versão anterior – ou 2 elevado à 128ª potência.
Para efeito de comparação, se o endereçamento do IPv4 fosse do tamanho de uma bola de tênis, o espaço matemático do IPv6 seria uma igual ao de uma bola astronomicamente gigantesca, com diâmetro 595 mil vezes maior do que a distância entre a Terra e a galáxia de Andrômeda . Um exemplo de endereço do IPv4 é 172.16.254.1, enquanto um de IPv6 é 2001:db8:0:1234:0:567:8:1.
As empresas de tecnologia resistem a aderir ao IPv6 por alguns motivos. Além de questões econômicas, especialistas afirmam que grande parte das ferramentas de segurança disponíveis e outros tipos de serviço ainda não funcionam como a nova versão do protocolo.
Durante a mudança, alguns servidores vão precisar ser reconfigurados e de mudança em sua estrutura, caso sejam muito antigos, o que pode exigir gastos com infraestrutura e treinamento das equipes dos provedores de internet.
Demi Getschko, diretor-presidente do NIC.br, já havia tocado no assunto em entrevista ao GLOBO em 2005:
– A expansão do IPV6 exige trocar toda a infra-estrutura, isso demora. Há linhas e roteadores rodando IPV4. Se você lança o IPV6 sem uma grande uniformização você cria ilhas que não se falam.
Está marcado para 8 de junho o dia mundial do IPv6 , gigantes da rede – Google, Facebook e Yahoo, por exemplo – farão um teste patrocinado pela Internet Society (Isoc) para ver se a nova versão do IP suporta o tráfego. Na Campus Party Brasil 4 também foram testados endereços de IPv6.
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